Desconectar para Conectar
- Afirmo
- 28 de abr.
- 3 min de leitura

Recentemente, decidi dar uma pausa das redes sociais. A princípio, parecia um simples descanso, mas logo percebi que estava mais relacionado ao meu bem-estar mental do que uma necessidade passageira. Em um trabalho específico, fui designado a realizar um monitoramento, e isso incluía estar no X (antigo Twitter). Contudo, após a aquisição do por Elon Musk transformou o ambiente em algo que eu não reconhecia mais. O lugar virou uma verdadeira terra de ninguém, repleta de ataques, discursos de ódio, crimes disfarçados de “opiniões” e, claro, uma enxurrada de desinformação.
Mesmo tentando filtrar a timeline com meus interesses pessoais, a inundação de conteúdos falsos foi me afetando de diversas formas.
Essa confusão virtual se tornou um gatilho para minha ansiedade, um desafio que já venho enfrentando. A tensão de lidar com aquele mar de desinformação e ataques constantes afetava minha saúde mental de maneira significativa. Depois de terminar o trabalho, tentei continuar no ambiente, mas logo percebi que algo dentro de mim dizia: “Você precisa sair.” No começo, foi difícil, como se a plataforma tivesse um poder maior sobre mim do que eu imaginava.
Como seguir sem estar ali? Trabalho com influenciadores e gerencio projetos que dependem das redes. No entanto, sabia que precisava encontrar um jeito de me afastar e reverter o impacto negativo daquele espaço. Então, decidi dar um passo atrás e ajustar a minha relação com as telas.
Minha estratégia inicial foi desinstalar os aplicativos do celular, o que foi um grande passo. Para manter a comunicação no trabalho sem me perder nas redes, criei um alerta que só me notificaria por e-mail se fosse algo urgente. Assim, eu não ficava à mercê da tentação, mas mantinha o controle sobre as demandas que precisavam da minha atenção. Nos primeiros dias, senti uma frustração imensa ao desbloquear o celular e perceber que os aplicativos não estavam mais ali. Porém, em questão de segundos, essa frustração dava lugar a uma sensação de alívio. Sabia que estava fazendo aquilo por um bom motivo. Esse processo de distanciamento foi difícil, mas extremamente necessário.
Durante esse período, percebi muitas mudanças ao meu redor e que muitas coisas aconteceram. Pessoas que chegaram nesse mundão, outras partiram, casais que se formaram ou se separaram, e até grandes conquistas aconteceram. Mas eu soube disso só depois. Isso me fez refletir sobre o quanto as redes sociais se tornaram um canal de comunicação ágil, e como, muitas vezes, você se sente excluído ao não estar presente. Era como se, ao não estar ali, você perdesse o contato com o mundo.
O mais importante de todo esse período de desconexão foi o tempo que consegui recuperar para mim mesmo. Voltei a organizar o trabalho, a ler mais, a estudar e até a fazer cursos (2, para ser honesto). A qualidade do meu sono melhorou e a ansiedade diminuiu. Sem as postagens odiosas, o ambiente digital se tornou um pouco mais tranquilo. Claro que, ao acessar portais de notícias, não conseguia escapar de conteúdos perturbadores, como se estivesse consumindo algo da “deep web” ou de uma série apocalíptica – afinal, estamos no Brasil e o roteirista daqui não tem limites.
Mas a diferença estava na minha forma de consumir a informação: eu lia, processava e seguia em frente, sem me perder nos comentários ou nas discussões vazias.
Com o tempo, comecei a voltar aos poucos, mas com muito mais foco e limitações. Hoje, acesso as redes somente pelo computador, por ser um processo mais desconfortável, o que me ajuda a evitar distrações. Dou uma olhada no feed de 2 a 3 vezes por dia, sem deixar que isso interfira no meu dia a dia. A saudade de acompanhar projetos que ajudei a construir ou que estavam em andamento estava presente, mas sabia que, para entender tudo isso de forma mais saudável, sair de cena foi a melhor escolha.
Sigo conectado, mas agora com mais consciência do tempo que invisto nesse universo e, acima de tudo, com a capacidade de me distanciar quando percebo que minha saúde mental está em jogo. Não tenho a pretensão de ser blogueiro, mas quero estar conectado para acompanhar os acontecimentos e executar meu trabalho de forma atualizada, sem gerar mais demandas para minha terapeuta.