Creator Economy. Para quem?
- Afirmo

- 14 de ago.
- 2 min de leitura

Lá em algum momento dos últimos anos, alguém soltou a frase: "Na internet, qualquer um pode ser criador de conteúdo!"
E teve gente que acreditou! Compramos ring light, aprendemos a editar vídeo no celular, criamos emails e @ com nomes criativos e começamos a produzir. Só esqueceram de avisar que a tal da creator economy não é bem uma democracia. É mais um clube VIP — e a porta de entrada, está sempre trancada. Pelo menos para alguns.
A expectativa para o mercado é que movimente R$ 900 milhões até 2027.
"Uau, quanto dinheiro!"Sim. Só tem um detalhe: a maior parte dessa bolada está nas mãos de pouquíssimas pessoas — e spoiler: provavelmente você (ou eu) não estamos nessa lista.
No Brasil, são milhões de criadores. Mas... apenas uma pequena, mas pequena mesmo vivem exclusivamente disso. E mesmo entre os 200 maiores criadores do país, só 22% conseguem de fato monetizar o conteúdo que postam. Ou seja: a chance de você ser o Whindersson Nunes é mais ou menos a mesma de ganhar na Mega da Virada.
Autenticidade? Só se der engajamento.
Tem gente que cria pra informar, emocionar, gerar impacto. Tem quem queira só pagar os boletos (e tá tudo bem!). Mas a verdade é que os algoritmos não estão nem aí pro seu propósito. Eles querem performance, frequência, padrão visual e boa aparência na thumb.
Aí o criador se vê num dilema:ou mantém a essência e fala para meia dúzia,ou entra no personagem e fatura com publi de cápsula milagrosa, chá detox ou bet.
Sim, é difícil concorrer com o influenciador que vende tudo — até a dignidade — e ainda fecha parceria com marca grande.
Diversidade? Aquela representatividade simbólica.
Uma pessoa preta, uma pessoa gorda, uma pessoa trans — só pra dar aquela cara de diversidade no post institucional. Na prática? Quem foge do padrão continua fora do algoritmo, fora das campanhas e, claro, fora do orçamento das marcas.
Criadores negros, LGBTQIAPN+, PCDs, gordos, indígenas, periféricos continuam sendo ignorados, subestimados e mal pagos.
Aliás, criadores negros chegam a ganhar até 35% menos que criadores brancos, mesmo com níveis de engajamento semelhantes.
A gente já sabe que meritocracia não funciona. A digital que passa pelo filtro do algoritmo, então… "Mas se a pessoa se esforçar, ela consegue."Será?
A internet cobra presença constante, conhecimento técnico, equipamento, edição, estratégia, gestão de comunidade, dancinha, roteiro, storytelling, copy, identidade visual e carisma. Ah, e se der pra ser padrão, ajuda bastante.
A verdade é que a creator economy reproduz as mesmas desigualdades do mundo offline. Só que com filtro.
Enquanto isso, muita gente segue acreditando que “basta começar”. E muita marca segue fingindo que oferece espaço — quando o que entrega mesmo é só uma poltrona de canto, bem longe dos holofotes.
Criar é potência. Criar é existir. Mas criar também exige estrutura, reconhecimento e pagamento justo.
A creator economy não vai ser democrática enquanto só beneficiar os mesmos perfis de sempre — e fingir inclusão com uma publi em junho e outra em novembro.
Ou é pra todo mundo, ou é só mais um mercado de exclusão, com filtro bonito pra disfarçar a desigualdade.
Adalberto Firmo*
*Feito por uma IR (ignorância real), revisado pela IA.



